Na última quinta-feira, dia 1º, o
Auditório da Secretaria Municipal de Educação – SEMED foi palco de acalorados
discursos e proveitosos debates sobre diversidade e educação inclusiva. A
Gerência de Educação Especial da Semed realizou o 2º Seminário Municipal de
Educação Inclusiva e Diversidade com a participação de gestores, professores,
pais, alunos e comunidade em geral.
De acordo com Maria Cecília Corrêa de
Souza, gerente da Gerência de Educação Especial, o Seminário foi um dos
melhores que já foram realizados no Município sobre o assunto. Segundo ela, as
discussões sobre diversidade, respeito, educação inclusiva, o papel de cada
servidor dentro da escola com relação ao aluno com deficiência, as dúvidas de
profissionais que trabalham com eles quebraram barreiras, superaram paradigmas
e mostrou a face de uma educação que ainda não havia sido vista em outros
encontros.
Para falar sobre a visão dela a respeito do
Seminário, fizemos uma entrevista com Maria Cecília, que pontuou os temas mais
delicados e importantes tratados no encontro.
Maria Cecília, falando sobre a implementação da Lei 11645/2008, o
coordenador dos povos indígenas Heliton Tinhawamba Sebirop S. Gavião, em sua
fala no Seminário, mostrou-se preocupado com o projeto de implantação de
educação infantil em tribos indígenas. A seu ver, qual seria essa preocupação e
ela procede?
R: O que seria bom nisso tudo, na
educação infantil nas tribos, seria a troca de cultural entre o professor
branco e o aluno índio. O problema, a meu ver e creio que na visão do Heliton, é que não só não ocorra essa
troca, como ainda aconteça uma perda de identidade do aluno indígena, até pela
posição de autoridade dentro de sala de aula, de forma que ele, o professor,
vai acabar impondo, mesmo que inconscientemente, sua cultura, seus valores. Eu
ensino o que eu sou, o que eu acredito, afinal.
Você acha que os nossos professores, seja do Município ou do Estado,
estão preparados para esse desafio de lecionar em uma tribo indígena sem deixar
com que aquilo que ele ensina de uma forma ou de outra venha a interferir na
cultura do aluno indígena, sem que haja, mesmo que sem querer, uma imposição da
cultura do professor na cultura do índio?
R: Creio que ainda não. Porque a gente
precisa aprender a respeitar a cultura do outro, a crença do outro. Porque
quando eu vou no meu papel de professor eu coloco os valores que eu acredito.
Por exemplo, tem essa discussão em nível nacional sobre a Escola Sem Partido.
Se soubéssemos respeitar o outro, a opinião dele, não haveria essa discussão.
Não sei se existe o ser humano que consegue educar, transmitir conhecimento sem
colocar sua própria visão de mundo, sua experiência de vida.
Falando sobre a importância de como atender a criança com deficiência e
com alimentação diferenciada, profissionais atuando há muito em suas áreas
confessaram que é uma realidade completamente diferente e eles mesmo estão
sentindo essa necessidade de mudar suas atuações. Como a Educação Especial vê
essa questão?
R: É importante a gente ouvir o
depoimento de outros professionais. Porque como educadores a gente se pergunta:
será que é só eu que tenho que mudar minha prática? Por tudo que foi discutido
na Mesa Redonda percebemos que outros profissionais como a fonoaudióloga, a
psicóloga e a nutricionista também precisaram rever seus conhecimentos, suas
práticas, suas formas de atendimento para que pudessem atender bem e dar
suporte aos professores, porque eles todos estão trabalhando para ajudar a
criança no Centro de Autismo e depois na escola. A nutricionista, por exemplo,
já está pensando em um trabalho de conscientização para as escolas voltado para
as crianças autistas e outras crianças com necessidades alimentares
diferenciadas, porque ela percebeu que as vezes a retirada ou o acréscimo de um
tipo específico de alimento pode fazer uma grande diferença para o aluno com
deficiência.
Na avaliação do Seminário, os participantes elogiaram muito a Mesa
Redonda Superando Obstáculos, que contou com depoimentos de pessoas com
deficiência. O que foi tão diferente nessa atividade?
R: Foi uma rara oportunidade de
ouvirmos das próprias pessoas com deficiência sobre suas trajetórias de vida. O
caminho percorrido desde o tempo de escola até se tornar um profissional. As
dificuldades para se encontrar na escola, como o exemplo de uma autista que
disse ter tido dificuldade de interagir no ambiente escolar devido à quantidade
de pessoas, o barulho. Ela achava a escola muito barulhenta. Ela não achava que
era importante, por exemplo, ter que mostrar para o professor que sabia ler.
Até hoje ela disse ter muita dificuldade com a matemática, mas assuntos do
interesse ela desenvolve bem, no caso, como técnica em enfermagem ela
desenvolve bem. Os autistas precisam seguir regras, mas as pessoas costumam
quebrar as regras e isso as desregulam, desequilibram.
Com relação às crianças com deficiência, o que é preciso dos
profissionais das escolas para que elas sejam bem atendidas?
R: Na Mesa Redonda Atribuições dos
Profissionais que Atendem os Alunos com Deficiência nós destacamos a
importância do professor que recebe o aluno com deficiência. Esse profissional
precisa ter além da formação pedagógica o desejo de ensinar a pessoa com
deficiência, já que esse aluno vai acabar exigindo dele uma mudança de prática,
um olhar diferenciado e a busca por conhecimento sobre esse aluno e suas
necessidades. Porém o professor não é o único responsável pelo sucesso desse
aluno. É importante o envolvimento de todos os profissionais da escola para
garantir a permanência e a aprendizagem desse aluno. Como dissemos antes, até a
pessoa que prepara o alimento dessas crianças tem sua importância destacada no
cuidado com o aluno com deficiência.
Professora Maria Cecília, quais são suas considerações finais sobre o
Seminário e o que isso acrescentou ao trabalho que já vem sendo desenvolvido
pela Secretaria ao longo destes três últimos anos?
R: Só temos a agradecer à secretaria de
Educação, professora Leiva Custódio, que tem apoiado grandemente a educação
inclusiva em nosso Município, a Superintendência de Ensino que tem destacado
esse trabalho a cada ano. Agradecemos também a atuação dos interpretes de
libras Flávia Regina Stur e Nágila da Silva Araújo Bandeira, que fizeram a
tradução em libras e em voz para os participantes. Alguns sentiram falta de se
falar sobre libras no Seminário. Sabemos que a aprendizagem acontece quando
existe interesse em aprender. Os participantes puderam ter uma aula prática de
libras, porque puderam ouvir e ver a tradução das palestras em língua de
sinais. Isso faz com que haja interesse em aprender uma nova língua e o
respeito pelas diferenças.
Creio que também o cuidado que tivemos
na elaboração dos temas a serem debatidos foi de fundamental importância para o
sucesso do encontro. A maioria dos temas foram sugeridos na edição anterior do
Seminário, no ano passado, por isso tudo que foi visto era de grande interesse
dos participantes.