segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Gerente da Educação Especial fala, em entrevista, sobre o sucesso do Seminário Educação Inclusiva e Diversidade




Na última quinta-feira, dia 1º, o Auditório da Secretaria Municipal de Educação – SEMED foi palco de acalorados discursos e proveitosos debates sobre diversidade e educação inclusiva. A Gerência de Educação Especial da Semed realizou o 2º Seminário Municipal de Educação Inclusiva e Diversidade com a participação de gestores, professores, pais, alunos e comunidade em geral.
De acordo com Maria Cecília Corrêa de Souza, gerente da Gerência de Educação Especial, o Seminário foi um dos melhores que já foram realizados no Município sobre o assunto. Segundo ela, as discussões sobre diversidade, respeito, educação inclusiva, o papel de cada servidor dentro da escola com relação ao aluno com deficiência, as dúvidas de profissionais que trabalham com eles quebraram barreiras, superaram paradigmas e mostrou a face de uma educação que ainda não havia sido vista em outros encontros.
Para falar sobre a visão dela  a respeito do Seminário, fizemos uma entrevista com Maria Cecília, que pontuou os temas mais delicados e importantes tratados no encontro.


Maria Cecília, falando sobre a implementação da Lei 11645/2008, o coordenador dos povos indígenas Heliton Tinhawamba Sebirop S. Gavião, em sua fala no Seminário, mostrou-se preocupado com o projeto de implantação de educação infantil em tribos indígenas. A seu ver, qual seria essa preocupação e ela procede?

R: O que seria bom nisso tudo, na educação infantil nas tribos, seria a troca de cultural entre o professor branco e o aluno índio. O problema, a meu ver e creio que na visão do Heliton, é que não só não ocorra essa troca, como ainda aconteça uma perda de identidade do aluno indígena, até pela posição de autoridade dentro de sala de aula, de forma que ele, o professor, vai acabar impondo, mesmo que inconscientemente, sua cultura, seus valores. Eu ensino o que eu sou, o que eu acredito, afinal.


Você acha que os nossos professores, seja do Município ou do Estado, estão preparados para esse desafio de lecionar em uma tribo indígena sem deixar com que aquilo que ele ensina de uma forma ou de outra venha a interferir na cultura do aluno indígena, sem que haja, mesmo que sem querer, uma imposição da cultura do professor na cultura do índio?

R: Creio que ainda não. Porque a gente precisa aprender a respeitar a cultura do outro, a crença do outro. Porque quando eu vou no meu papel de professor eu coloco os valores que eu acredito. Por exemplo, tem essa discussão em nível nacional sobre a Escola Sem Partido. Se soubéssemos respeitar o outro, a opinião dele, não haveria essa discussão. Não sei se existe o ser humano que consegue educar, transmitir conhecimento sem colocar sua própria visão de mundo, sua experiência de vida.

Falando sobre a importância de como atender a criança com deficiência e com alimentação diferenciada, profissionais atuando há muito em suas áreas confessaram que é uma realidade completamente diferente e eles mesmo estão sentindo essa necessidade de mudar suas atuações. Como a Educação Especial vê essa questão?
R: É importante a gente ouvir o depoimento de outros professionais. Porque como educadores a gente se pergunta: será que é só eu que tenho que mudar minha prática? Por tudo que foi discutido na Mesa Redonda percebemos que outros profissionais como a fonoaudióloga, a psicóloga e a nutricionista também precisaram rever seus conhecimentos, suas práticas, suas formas de atendimento para que pudessem atender bem e dar suporte aos professores, porque eles todos estão trabalhando para ajudar a criança no Centro de Autismo e depois na escola. A nutricionista, por exemplo, já está pensando em um trabalho de conscientização para as escolas voltado para as crianças autistas e outras crianças com necessidades alimentares diferenciadas, porque ela percebeu que as vezes a retirada ou o acréscimo de um tipo específico de alimento pode fazer uma grande diferença para o aluno com deficiência.


Na avaliação do Seminário, os participantes elogiaram muito a Mesa Redonda Superando Obstáculos, que contou com depoimentos de pessoas com deficiência. O que foi tão diferente nessa atividade?

R: Foi uma rara oportunidade de ouvirmos das próprias pessoas com deficiência sobre suas trajetórias de vida. O caminho percorrido desde o tempo de escola até se tornar um profissional. As dificuldades para se encontrar na escola, como o exemplo de uma autista que disse ter tido dificuldade de interagir no ambiente escolar devido à quantidade de pessoas, o barulho. Ela achava a escola muito barulhenta. Ela não achava que era importante, por exemplo, ter que mostrar para o professor que sabia ler. Até hoje ela disse ter muita dificuldade com a matemática, mas assuntos do interesse ela desenvolve bem, no caso, como técnica em enfermagem ela desenvolve bem. Os autistas precisam seguir regras, mas as pessoas costumam quebrar as regras e isso as desregulam, desequilibram.

Com relação às crianças com deficiência, o que é preciso dos profissionais das escolas para que elas sejam bem atendidas?

R: Na Mesa Redonda Atribuições dos Profissionais que Atendem os Alunos com Deficiência nós destacamos a importância do professor que recebe o aluno com deficiência. Esse profissional precisa ter além da formação pedagógica o desejo de ensinar a pessoa com deficiência, já que esse aluno vai acabar exigindo dele uma mudança de prática, um olhar diferenciado e a busca por conhecimento sobre esse aluno e suas necessidades. Porém o professor não é o único responsável pelo sucesso desse aluno. É importante o envolvimento de todos os profissionais da escola para garantir a permanência e a aprendizagem desse aluno. Como dissemos antes, até a pessoa que prepara o alimento dessas crianças tem sua importância destacada no cuidado com o aluno com deficiência.

Professora Maria Cecília, quais são suas considerações finais sobre o Seminário e o que isso acrescentou ao trabalho que já vem sendo desenvolvido pela Secretaria ao longo destes três últimos anos?

R: Só temos a agradecer à secretaria de Educação, professora Leiva Custódio, que tem apoiado grandemente a educação inclusiva em nosso Município, a Superintendência de Ensino que tem destacado esse trabalho a cada ano. Agradecemos também a atuação dos interpretes de libras Flávia Regina Stur e Nágila da Silva Araújo Bandeira, que fizeram a tradução em libras e em voz para os participantes. Alguns sentiram falta de se falar sobre libras no Seminário. Sabemos que a aprendizagem acontece quando existe interesse em aprender. Os participantes puderam ter uma aula prática de libras, porque puderam ouvir e ver a tradução das palestras em língua de sinais. Isso faz com que haja interesse em aprender uma nova língua e o respeito pelas diferenças.
Creio que também o cuidado que tivemos na elaboração dos temas a serem debatidos foi de fundamental importância para o sucesso do encontro. A maioria dos temas foram sugeridos na edição anterior do Seminário, no ano passado, por isso tudo que foi visto era de grande interesse dos participantes.