terça-feira, 26 de setembro de 2017

Dia Nacional do Surdo: Ji-Paraná só tem a comemorar


Já faz alguns anos que não se vê mais pelos corredores das escolas do Município aqueles alunos cabisbaixos, tristes, ensimesmados em um mundo paralelo e silencioso, sem voz e, consequentemente, sem vez. Hoje, tanto nas escolas quanto nos corredores e dependências da própria Secretaria Municipal de Educação (Semed), as mãos e os rostos daquelas mesmas pessoas que antes não diziam nada ou quase nada, com meia dúzia de gestos desconexos e heterogêneos, agora se agitam e mudam de feição em conversas intermináveis, entusiasmadas, frenéticas até para os mais desatentos, como que querendo transmitir e receber de uma só vez dezenas, centenas de informações que estavam há muito contidas. É o resultado do trabalho de ofertar a alunos, pessoas surdas e familiares de Ji-Paraná a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, língua oficial de comunicação e expressão das pessoas surdas no Brasil, estabelecida em 2002 por força da Lei nº 10.436.
Ao todo são seis interpretes de Libras trabalhando na Gerência de Educação de Surdos e na Coordenação de Ensino de Libras da Secretaria. Além do atendimento direto às crianças surdas matriculadas nas escolas da Rede Municipal de Ensino, são eles que atuam na oferta do aprendizado de Libras. Anualmente, o Curso de Libras é realizado em três etapas, o Curso Básico, o Intermediário e o Avançado. Participam destes cursos não só alunos surdos, mas também professores, cuidadores, pais de alunos e pessoas interessadas na linguagem das pessoas surdas. Os responsáveis pelos cursos de Libras são os instrutores surdos Ronaldo Oliveira Veloso, Zélia Augusta Nicodemos e a professora interprete Jaqueline Custódio Chagas Soares.

Este ano, por exemplo, 61 pessoas participaram do Curso Básico de Libras, realizado no período de 14 de março a 23 de maio. De 6 de junho a 29 de agosto, o Curso Intermediário de Libras formou 58 pessoas. E no dia 12 deste mês, o Curso Avançado de Libras abriu turma com 73 cursistas, entre pessoas surdas, familiares de pessoas surdas, técnicos da própria Semed, assistentes sociais, estudantes ouvintes, entre outros.

Novo Projeto
Para ministrar os cursos de Libras, além da contratação dos profissionais, a Semed disponibilizou uma sala de Atendimento Educacional Especializado – AEE, com o objetivo de estabelecer a comunicação entre alunos surdos e ouvintes, comunidade escolar e as famílias das pessoas surdas.
E as ações relativas às pessoas surdas não param por aí. Este ano, a Semed iniciou uma nova proposta de atendimento, inclusão e socialização dos surdos: uma sala bilíngue. A sala está funcionando na Escola Municipal Ruth Rocha, localizada no bairro Nova Brasília, 2º Distrito de Ji-Paraná, com atendimento às segundas-feiras, das 14 às 17 horas. Todos os alunos surdos da Rede Municipal participam das atividades. A ideia é de que juntos eles possam desenvolver melhor suas habilidades intelectuais, sociais e linguísticas.

Comemoração
Hoje, dia 26 de setembro, é o Dia Nacional da Pessoa Surda. Por todo esse trabalho que tem sido desenvolvido pela Semed, Ji-Paraná tem muito a comemorar. Uma programação de palestras, apresentações artísticas e culturais reuniu mais de 150 pessoas no Auditório da Secretaria na noite de ontem, dia 25.
Kléber do Nascimento Santos ministrou palestra sobre “História e educação dos surdos” e a psicóloga Cristiane Figueiredo Santos trouxe o tema “Sou surdo, e agora?”. Cristiane, que é surda oralizada, enfatizou a necessidade da pessoa surda de “despojar-se de todo sentimento que a faz se sentir menor e estudar muito para ocupar seu espaço na sociedade”.
Alunos, interpretes e familiares programaram para hoje um dia de lazer em um clube campestre para comemorar a data.
“O objetivo dessas políticas é sempre a inserção social, a garantia dos direitos da pessoa surda e a viabilidade da comunicação social para que eles possam receber o atendimento adequado tanto nas instituições de ensino quanto em outros órgãos sejam eles públicos ou privados”, argumentou a superintendente de Ensino da Semed, Edilaine Nogueira.