Uma oportunidade ímpar para reunir segmentos dos mais diversos em torno da questão educação do campo. Esta é avaliação feita pela organização do III Seminário de Educação do Campo de Ji-Paraná, realizado na última quinta e sexta-feira, na quadra esportiva da Escola Família Agrícola (EFA/Itapirema).
Dois representantes da Secretaria de
Educação de São Mateus, Espirito Santo, o professor mestre José Roberto
Gonçalves de Abreu, secretário municipal de Educação de São Mateus, e o
professor Francisco José de Souza Rodrigues, gerente de Educação do Campo,
também contribuíram com os debates trazendo suas vastas experiências na
educação quilombola e no dia-a-dia de uma rede municipal de ensino com maioria
das escolas (61 das 109) na área rural.
Palestras e debates acalorados suscitaram
a necessidade de uma didática diferenciada para a educação do campo, bem como a
construção de um currículo que privilegie a permanência do aluno próximo à
família.
Já as apresentações das experiências
exitosas vivenciadas no campo pelas escolas da área rural de Ji-Paraná
apontaram caminhos possíveis, destacando o salto qualitativo na aprendizagem
dos alunos do campo quando as disciplinas ditas tradicionais são ministradas
fora do ambiente da sala de aula, ganhando significação para eles.
Foram destacados também recentes
investimentos da Administração Municipal nas escolas rurais, com a construção
de hortas com canteiros em alvenaria, cobertura em sombrite e sistema de
irrigação aérea, bem como a reestruturação de escolas com peculiaridades voltadas
à educação do campo, como é o caso da construção de salas de descanso para os
professores. Uníssona, a gratidão dos gestores na atenção dada às escolas da
área rural pelo atual prefeito, Jesualdo Pires, e pela secretária de Educação,
Leiva Custódio Pereira.
“Sabemos que muito ainda precisa ser
feito nas nossas escolas rurais, mas tudo que já foi realizado é para nós
motivo de alegria. É importante tanto para o aluno, para o professor como para
o gestor saber que está sendo olhado, tendo suas reivindicações, na medida do
possível, atendidas. Uma grande reforma e reestruturação como a que tivemos em
nossa escola nunca foi feito e isso muito nos orgulha e incentiva a fazer mais
e melhor”, disse a diretora da escola Pérola (Linha 98 – Setor Riachuelo),
Maria Aparecida Gomes da Silva.
Indignações
Como a simples presunção de unanimidade
em ambientes de debate é por si, no mínimo, uma incongruência filosófica e
mesmo semântica, o discurso do diretor da EFA, escola anfitriã do evento, Pedro
José dos Santos sobre a falta de investimentos por parte da administração
pública, pondo em risco a própria existência da escola, foi recebida pelo
público com preocupação.
“Gostaríamos de ter experiências
exitosas para apresentar a todos, mas na nossa atual situação, apenas o fato de
estarmos com as portas abertas e ofertando, ainda, uma educação de qualidade
para todos os nossos alunos, oriundos de 22 municípios do Estado, sem o menor
apoio das esferas Estadual ou Federal já é para nós uma grande conquista”,
lamentou Santos.
Preocupante também foi a
observação da secretária Leiva, que, demonstrando indignação, alertou aos
gestores das escolas convidadas ao grande número de faltosos no segundo dia do
evento, o que para ela, é uma “falta de compromisso com a educação”, passível
de sanções por parte da gestão das escolas, uma vez que, “é feito todo um
esforço conjunto da Administração para a realização do Seminário e o mínimo que
se espera é a presença, a participação das pessoas que fazem as inscrições.
Ninguém é obrigado a se inscrever, faz quem quer. Mas uma vez inscrito é até
uma obrigação moral a participação”, desabafou Leiva.