sexta-feira, 7 de novembro de 2014

CMAEE Autismo: sinônimo de orgulho para Rondônia em Conferência Internacional


Sabe aquelas situações em que a pessoa se sente meio perdida em um ambiente, um ‘peixe fora d’água’? Era assim que estavam se sentido duas professoras de Ji-Paraná na 1ª Conferência DIR/Flootime Internacional no Brasil, realizada na última semana de outubro, em Itaperuna, Rio de Janeiro/RJ. Estavam, porque a mesma coisa que as fez sentir deslocadas acabou se transformando no diferencial das educadoras rondonienses no evento internacional: elas eram as únicas representantes de uma entidade pública a trabalhar com autismo entre várias clínicas particulares, de diversos estados, que atendem crianças portadoras do distúrbio.
“Assim que chegamos percebemos que apenas nós representávamos uma entidade pública e ligada à educação, pois todas as outras entidades representadas na conferência eram particulares e da área da saúde, salvo representantes de uma APAE, que também não é pública, mas é ligada à área de educação. No início ficamos meio apreensivas com isso, mas conforme fomos conversando, falando do trabalho que desenvolvemos aqui vimos que causávamos uma surpresa boa, como uma espécie respeito, admiração mesmo pelo que fazemos. Foi aí que nos demos conta do quão grandioso e importante é o trabalho que Ji-Paraná faz”.
A observação é da professora Márcia Pereira Souza, diretora do Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado para Autismo de Ji-Paraná – CMAEE Autismo. Acompanhada da professora Dalva Rosa da Silva, Márcia esteve frente a frente com duas estadunidenses verdadeiras sumidades em se tratando de autismo, uma, nada menos que a criadora do método/modelo DIR/Floortime, a fonoaudióloga Serena Wieder e outra, a terapeuta educacional Rosemary White, da Profectum Foundation, entidade referência sobre autismo nos Estados Unidos.

O modelo D.I.R./Floortime
O modelo D.I.R./Floortime foi desenvolvido nos Estados Unidos e resulta de anos de observações e estudos a respeito do desenvolvimento infantil desde os anos 50. O modelo se baseia no desenvolvimento funcional da criança, suas diferenças individuais e relacionamentos, objetivando a formação das bases para as competências sociais, emocionais e intelectuais dos autistas. O método, de acordo com Márcia, representa uma revolução no atendimento de autistas e promoveu um salto qualitativo no trabalho com as crianças no Centro de Autismo de Ji-Paraná.
Resumidamente, o “D” significa Desenvolvimento Funcional Emocional, o “I” Diferenças Individuais e o “R” Relacionamentos. Já o Floortime é uma das estratégias do DIR, que significa literalmente “tempo no chão”, onde o terapeuta ou professor segue os interesses emocionais da criança ao tempo em que a desafia a ir em direção ao maior domínio das capacidades sociais, emocionais e intelectuais.

A Conferência
Toda as despesas das professoras Márcia e Dalva para participarem da Conferência Internacional foram custeadas pela Administração Municipal. Elas levaram à Conferência dois casos de crianças atendidas no Centro que foram analisadas por Serena.  Pedro Augusto, de 4 anos, tem dificuldade na flexibilização para aceitar mudanças e o Carlos Henrique, de 7 anos, não adquiriu linguagem ainda depois de dois anos de acompanhamento.
As professoras ji-paranaenses receberam sugestões do que fazer nos dois casos e aproveitaram para tiras dúvidas que surgiram no decorrer do trabalho no Centro de Autismo.
“Percebemos, com a pessoa mais entendida no modelo do mundo, que o que estamos fazendo estamos fazendo bem, e o que erramos, erramos muito pouco”, disse entusiasmada a diretora do Centro de Autismo.

Mudanças importantes
Sobre os “erros” comentados por Márcia, estes não dependem unicamente dela ou da equipe do Centro para serem solucionados, mas de toda uma cadeia de ações que precisam ser discutidas e se possível implementadas. Um dos problemas apontados pelas especialistas é a fragmentação dos atendimentos às crianças autistas. Segundo elas, o apoio do psicólogo, do fonoaudiólogo e do fisioterapeuta precisa ser feito na própria instituição. Hoje, a oferta destas especialidades é feita, quando feita, em vários locais e por profissionais distintos, que não conhecem a rotina das crianças. Também, no caso do psicólogo, ele precisa prestar atendimento não só à criança, mas à família dela, para identificar as mudanças que ocorrem.
Márcia falou que uma das coisas que foram muito discutidas é intervenção precoce, para crianças de creches a partir dos 9 meses de idade, uma vez que quanto mais cedo a criança for diagnosticada, melhor a resposta à terapia.
O que tem preocupado mesmo a diretora do Centro de Autismo de Ji-Paraná é o número de famílias que têm procurado atendimento.

Até da Capital
“Uma mãe, moradora de Porto Velho, procurou o Centro e lhe informamos que só poderíamos atender crianças de Ji-Paraná. Desesperada, a mãe alugou uma casa aqui na mesma semana e veio embora deixando tudo pra trás. Hoje o Ian é o nosso 26º aluno. Não temos como, não podemos negar atendimento a pessoas nessa situação. Sabemos do sofrimento que é ter uma criança com autismo sem um acompanhamento especializado. Abrimos as portas com 9 crianças e já estamos com 26 e uma fila de espera de mais 5 crianças. Nosso espaço já está pequeno de novo”, relatou Márcia.
Outro problema, bem mais fácil de resolver e que já está sendo conversado, é a volta das mães às salas de atendimento das crianças. Elas precisam estar presentes em pelo menos 2 das 3 horas das sessões.

Resultados
Além de poder aprofundar os conhecimentos sobre o método nas áreas de linguagem, motor e sensorial, a participação na Conferência Internacional resultou na aprovação do acesso às duas professoras para o curso de terapeutas, que tem duração de 2 a 3 anos.
“Agora não sei se poderemos pagar para fazer o curso, que seria um sonho para nós como profissionais”, explicou Márcia, aproveitando o ensejo para divulgar a venda das famosas pizzas da APP do Centro, nos dias 26 e 27 deste mês, que servirá para ajudar a custear parte da viagem de todas as professoras do Centro de Autismo à Recife, Pernambuco, para uma experiência de capacitação na forma de internato no Centro de Desenvolvimento Infantil – CDI Recife, um centro de referência no atendimento a crianças autistas no Brasil.